13 December 2007

Quanto tempo tenho

O relógio marca as 20 horas e 18 minutos. Lá fora a temperatura já só faz desejar uma boa chávena de chocolate quente e uma lareira para aquecer os nossos corpos. Depois de uma curta caminhada até ao local mais próximo para jantar, sentamo-nos numa mesa, uma qualquer, mas a que carinhosamente apelidamos de “mesa mais aconchegante deste centro comercial”. Este seria um simples jantar, apenas mais um. As palavras custavam a sair. O dia tinha sido longo para ambos. Entre banalidades e alguns sorrisos, surge o tema que marcou essa noite. A efemeridade da vida. E pensando bem, tudo o que vivemos, tudo pelo que passamos é passageiro. As vivências, as pessoas, os momentos. Tudo passa. Muito pouco fica. Apenas o suficiente para não deixar em nós o vazio de uma vida sem sentido. O ser humano tem a capacidade de depressa esquecer e de, algumas vezes, aprender com as dificuldades que surgem ao longo da sua vida. Habituamo-nos a sobrevalorizar as nossas dificuldades e prestar muito pouca atenção ao que atormenta aqueles que estão à nossa volta. Para o Homem a sua condição é sempre bem mais complicada e difícil de ultrapassar do que a “dos outros”. A personagem de “coitadinhos”, achamos nós, assenta-nos sempre como uma luva. Mas se temos problemas, esses mesmos “outros”, também os têm. Podem não nos parecer “problemas a sério”, mas para quem os está a viver talvez sejam. Porque muitas vezes esquecemo-nos de que também já passamos por situações e angústias semelhantes. E é fácil julgar e criticar quando não estamos envolvidos no assunto. Porque não somos nós que temos de lidar com os dilemas e com os obstáculos. Tudo na vida tem o seu grau de dificuldade. É inevitável. E é como diz o ditado: “o que não nos mata torna-nos mais fortes”. Uma vez superadas as dificuldades, aquele problema que até então era o nosso pior pesadelo acaba por se transformar em apenas mais uma recordação. Uma simples e “não tão agradável” recordação. Sim, a tendência para a auto-vangloriação é também uma das muitas qualidades inerentes a todos os seres humanos. Mas se pensarmos bem, aquilo que hoje nos preocupa e nos tira algumas horas de sono, daqui a uns dias ou, quem sabe, algumas semanas não vai passar de apenas “mais um” contratempo.

Não podemos esquecer de que a vida é feita de fases. Cada uma com os seus embaraços e dificuldades. Mas mais importante... a vida é feita por pessoas. Cada uma com os seus dilemas, angústias e certezas. Não podemos julgar nenhuma das pessoas que diariamente se cruzam connosco. Devemos sim compreendê-las e perceber que o mundo não gira em nosso torno. Temos de aprender a olhar para quem está ao nosso lado. Necessitamos de compreender que tudo na vida é efémero e passa demasiadamente depressa. Dolorosamente depressa. Até mesmo as grandes dificuldades que vão surgindo ao longo do nosso percurso. E são essas barreiras que nos fortalecem e nos moldam para aguentarmos a longa caminhada a que damos o nome de “vida”.

Engraçado... só agora reparo que esta conversa é já uma bela recordação. O relógio já marca a uma hora da manhã.

2 comments:

Sara* said...

Concordo com tudo, menos com uma coisa.
Não há nada inevitável. Não gosto de me conformar com o que vem, sem ter a hipótese de mudar alguma coisa.
Inevitáveis não existem. Vais ver =P

Cristiana Afonso said...

é bom partilhar recordações;) este texto faz-me sorrir;) bj***